O gato do telhado, que passava o dia no telhado, e o gato de janela, que passava o dia à janela, quiseram mudar de vida.
- Vamos fazer uma casa só para nós - propôs um deles.
- Boa ideia! Boa ideia! - aplaudiu o outro.
Não interessa quem falou primeiro. Basta que se saiba, aqui em segredo, que qualquer dos dois gatos era um bocado lunático, de tanto olhar para a lua em noites de Lua Cheia?
- Para construir uma casa, temos de começar pelo princípio - decidiu um deles.
- Pois claro! Pois claro! - concordou o outro.
Até este ponto não houve problemas. Mas as dificuldades já vinham a caminho?
- Começa-se pelo telhado - sugeriu um deles.
- Começa-se pelas janelas - contrapôs o outro.
Aqui não se entenderam. Discutiram, miaram, remiaram, bufaram e até se agatanharam.
- Vou construir a minha casa sozinho - disse um deles.
- E eu também vou construir a minha casa sem mais ajuda - disse o outro.
Estava desfeita a sociedade. Cada qual foi para seu lado.
Que pena! Ficaram, então, sem casa?
Pois claro que sim. Pois claro que não.
O gato do telhado juntou umas telhas, ajeitou-as umas sobre as outras, e miou, todo contente:
- Como construtor sou um primor!
Depois adormeceu em cima da sua obra.
O gato da janela juntou umas madeiras, pregou-as umas às outras, e miou, feliz da vida:
- Na construção sou campeão!
Depois adormeceu atrás da sua obra.
Querem acordá-los do seu sonho de gatos sem eira nem beira?
Querem desiludi-los e dizer-lhes que estão ambos enganados?
Não querem? Nós também não.
António Torrado